domingo, 19 de fevereiro de 2012

A história de uma menina chamada Maria...


“As coisas vulgares que há na vida não deixam saudade, só as lembranças que doem ou fazem sorrir 
  Há gente que fica na história, da história da gente e outras de quem nem o nome lembramos ouvir
  São emoções que dão vida à saudade que trago, aquelas que tive contigo e acabei por perder
  Há dias que marcam a alma e a vida da gente e aquele em que tu me deixaste não posso esquecer”

  
   Maria era uma criança e como tal, ainda acreditava na simplicidade da vida e experimentava o mundo de um modo inconsciente.
  Ela era mesmo miúda no sentido literal da palavra, pequena e franzina. De cabelo comprido e encaracolado em tons de castanho, normalmente apresentava-o atado com uma espécie de "rabo de cavalo".
  Relativamente à indumentária nada de especial a destacar, utilizava vários estilos. A todos os níveis era notório o sentido de procura, precisava de achar algo com que se identificasse, mas para que isso sucedesse era indespensável que primeiro se encontrasse a si mesma.
  A menina manifestava já alguma ansiedade e começava a sentir com agudeza essa fatal necessidade da descoberta.
  Com os seus tenros onze ou doze anos, pressente que se avizinhavam tempos temerosos. A adolescência estava à porta, mas a criança acomodada não autorizava a entrada de uma nova fase. 
  Como forma de prevenção ou defesa, Maria decide iniciar um peculiar processo de observação aos adultos. Não estava fácil encontrar a razão para querer vir a tornar-se num deles.
  Escassos seres lhe captavam uma atenção especial, todavia, até essas criaturas escrupulosamente selecionadas revelavam defeitos.

 Pois é Maria! O ser humano contém imperfeições e com o passar dos anos deixa de acreditar na felicidade como um todo, crê apenas numa desfragmentada ventura, irrepetíveis e breves momentos em que se é invadido por uma enorme sensação de bem-estar.

  Possivelmente como consequência dessa brincadeira de estudar comportamentos, ou talvez por obra do incógnito fado, é imposta a presença de Francisca que iria acabar por ser a grande influência de Maria não só naquele momento, mas para sempre. Surgia finalmente alguém com quem ela se identificava e que em parte lhe ensinou e incutiu aquilo que necessitava para poder brotar.
  Maria começava a pensar, a sentir e a agir de uma forma diferente. Aprendia muito através do que lhe era transmitido e seguia à letra todos os ensinamentos.

   Como havia a miúda de pôr em causa alguma coisa, se tudo lhe parecia perfeito?!

  Conhecera alguém possuidor de muitas qualidades, era inteligente, interessante, criativa, expressiva, bonita, simpática, alegre, extrovertida, sensível, bem-sucedida pessoal e profissionalmente. Por vezes, era-lhe também característico um génio do tipo bipolar, porque também conseguia ser fria, insensível, distante, distraída, esquecida, tímida, deprimida e triste. 
  Todos estes adjetivos misturados resultariam talvez no segredo para uma combinação tão irresistível.
  O mais importante para esta criança era o preenchimento interior que alcançara e que até à aparição desta amiga era como que inatingível ou mesmo anónimo.
  Mantinha algumas amizades com pessoas da mesma geração, no entanto involuntariamente desvalorizava-as por sentir que das mesmas não rececionava, o já encontrado efeito satisfatório. As relações com os chamados adultos eram para si mais produtivas, julgava.
  Ao longo do percurso de Maria, várias pessoas irromperam. Uma quantidade indeterminada de sujeitos: os que meramente passaram e os outros que acabaram por se alojar. Um de entre dois ou mais daqueles que permaneceram, eram mais merecedores da admiração de Maria pelo que tinham já feito por ela, mas incompreensívelmente nunca nenhum fora tão valorizado ou amado como Francisca.
   
  A ingenuidade da menina fazia com que acreditasse que esse ente especial seria um alicerce ou um poste sustentador da sua construção. 

  Contudo, Francisca que até então tinha sido capaz do melhor, infelizmente tornar-se-ia capaz do pior.
  Maria cai de forma desamparada quando percebe que os seus ideais são arrasados, não queria acreditar que a tal construção acabaria por ruir, por se desmoronar de uma forma tão violenta e possivelmente sem retorno.

(continua...)
                                                                                    




                                      
Juliana Silva Casimiro